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Uma surpresa nunca vem Só...

por Clementine Tangerina, em 19.08.09


(...)


- Gi acho que estás a fazer um drama!
- Estás a gozar comigo Miguel, só podes.
-É claro que não estou.
- Achas que faz algum sentido continuares casado por mais um ano, quando já me estás farto de dizer que já não és feliz.
- É uma situação pontual, nada mais.
- Tu chamas pontual a isto ?
- Por favor, Gi deixa-te de dramas.
- Eu já te disse o que tinha a dizer...
- Significa que não vais aceitar o meu pedido de namoro.
- Pois parece que sim...daqui a um ano dou-te a resposta.
- Gi...
-Miguel...
-Por favor não vamos deixar que a Maria interfira na nossa vida mais uma vez.
-Se não querias que ela interferisse nunca terias aceite as condições dela.
-Mas o que eu estou a tentar explicar-te é que não aceitei...não quis dar uma resposta definitiva sem falar contigo.
- Já estás a falar melhor...não foi isso que disseste à pouco...
-Pois não, porque quis testar a tua paciência...
- Sem comentários Miguel.
- Gi, não houve qualquer objecção por parte da Maria na separação, claro que não ficou feliz, mas eu também lhe disse que já não estava feliz e que queria viver a minha vida sem ela ao meu lado.
- Ufffaaa que alivio, por momentos pensei que nunca mais podíamos estar juntos sem preocupações.
- Isso significa que aceitas?
- Aceito o que?
-Namorar comigo...
- Acho que já passamos a idade de namorar...mas sim aceito...

Miguel levantou-se da mesa e abraçou Gisela, mas o abraço foi interrompido pela pergunta dela.
- Quando é que sais de casa de vez ?
- Já sai...já tirei de lá as minhas roupas e já contratei uma empresa para ir buscar uns caixotes que lá tenho.
- Que pratico...
- Pratico não...já estava mentalizado para que este dia fosse chegar..
- E para onde vais viver?
- Eu contava que me desses guarida por uns dias...
-Ahhh simmm? - Com uma cara de poucos amigos afirmou Gisela
- Estou a brincar, pedi emprestado um apartamento a um amigo que está a viver fora, ele só vem a Portugal no verão por isso tenho a casa por minha conta.
- Olha que bom, assim não gastas hotel enquanto procuras casa.
-Estava a pensar que talvez me pudesses ajudar na procura de casa...
- É claro que te ajudo, adoro procurar casas...com muito prazer...em que zona queres?
- Gosto da tua zona, é na cidade mas é tranquila...
- Óptima opção meu querido...
Gisela pediu a lista de sobremesas e Miguel observava a sua expressão facial que tinha mudado radicalmente desde o momento que ele lhe tinha dado a boa noticia.
- Porque me olhas? - Perguntou Gisela a Miguel.
- Porque és ainda mais bonita quando estás feliz.
- Ohh muito obrigado, mas acho que acontece a quase toda a gente.
- Mas tu não és toda a gente, és a minha namorada.
- É tão estranho ouvir-te chamar-me "namorada" parece que voltamos a ter quinze anos de novo...
- É tontice tua...
- Ahh Miguel eu tenho algo para te contar que há muito se anda a arrastar...
- Más noticias?
- Para mim não, mas para ti pode ser...
- Aiiiiiiii Gi, podias ter guardado a noticia para outro dia...
-Não vale a pena fugir dos assuntos importantes...
-Diz logo...
- Eu já sou mãe...
- D-E-S-C-U-L-P-A ?

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Mais um Ano...

por Clementine Tangerina, em 23.07.09


Gisela enviou sms a Miguel a dizer-lhe que estaria pronta às 20 horas em sua casa. Enviou-lhe a morada e aguardou que as horas passassem o mais rapidamente possível, para descobrir o que se tinha passado na conversa entre Miguel e Maria.
Cansada do dia de trabalho, arrumou as suas coisas e foi para casa tomar um banho e vestir-se para o jantar.
Vestiu umas calças de ganga justas, uma túnica acetinada e uns sapatos altos que combinavam perfeitamente com a bolsa que levava.
Secou o cabelo, pouca sombra nos olhos, rimel e gloss e estava pronta para jantar.
Às 20 horas em ponto, Miguel tocou-lhe à porta.
- Gi, sou eu o Miguel...
- Queres subir ou desço ?
- Se estiveres pronta desce...
-Estou...vou já então!
Gisela olhou-se uma ultima vez ao espelho antes de sair de casa, retocou o gloss, por mais umas gotas de perfume e trancou a porta.
Dentro do carro estava Miguel, com um sorriso comprometedor, saiu do carro para cumprimentar Gisela e para lhe abrir a porta.
- Olá querida, como estás?
- Agora estou bem!
- Ainda bem, não há motivos para tristezas...
- NÃO???
- Não, calma...por favor...depois falamos sobre isso...deixa-me aproveitar um pouco da tua companhia e depois conto-te tudo tudo!
- Combinado então...! Onde vamos jantar ?
- A um sitio que tu adoras...ou adoravas...e que já lá fomos várias vezes!
- Uhmmm...sabes que os meus gostos culinários tem vindo a modificar-se...
- Mas aposto que não deixaste de gostar deste.
Estava uma noite agradável, pelo caminho até ao restaurante Miguel e Gisela contaram algumas fofocas da empresa, falaram de trabalho e dos próximos desafios que tinha sido lançados pela administração e da apresentação que Gisela teria de fazer à empresa dentro de dias.
- Já sei onde vamos...já sei, já sei...
- Aiii sim? Onde?
- É por isto que eu gosto de ti...vamos ao "Puro"...
- Sim, vamos é esse mesmo...estava-me a apetecer comer italiano...
- Olha somos dois...já não vou lá jantar há alguns meses...que saudades!
- Ainda bem que acertei!
Entraram, cumprimentaram o chefe de sala, que já os conhecia de outros tempos. Sentaram-se numa mesa num canto da sala que tinha vista privilegiada para o mar.
- Então, mas conta-me a conversa...já não aguento mais esperar!
- Correu bem, muito bem! Estava à espera que a Maria fizesse um drama, que ameaçasse atirar-se da janela, como já fez anteriormente...
- Chegou a esse ponto ?
- Sim, a isso e muito mais...mas a conversa de ontem correu lindamente. Talvez pelo facto de já estar a ser medicada, aceitou a minha decisão. Disse-me que se iria mudar para casa dos pais, que não se sentia bem sozinha naquela casa, e até disse que eu podia ficar.
- Não achaste estranho tanto facilitismo ?
- Sim, achei mas insisti com ela que era mesmo para valer a separação que não havia volta a dar.
- E ela ?
- A Maria disse-me que já tinha suspeitas de que mais dia menos dia isso iria acontecer e que os pais já a tinham avisado de que eu andava infeliz.
- Fico feliz por tudo ter corrido bem!
- Mas ainda há mais...
- Então?
- A única exigência dela é que não oficializássemos o divorcio agora...que esperássemos pelo menos um ano...
- DESCULPA?
- Sim, questões burocráticas da família, relacionadas com património...
- Ohh Miguel, já ouvi muitas desculpas mas essa é muito boa!
- Tenta compreender Gi, tenta compreender.
- Não tenho nada que compreender Miguel, a vida é tua...tu é que sabes o que fazes dela...
- Não sejas assim tão radical...eu tentei fazer o melhor para nós...
- Não me metas ao barulho...não tenho nada a ver com essa história...aqui não existe "NÓS", existe tu e a Maria...
- Mas eu estava pronto para hoje te pedir em namoro, esperava que aceitasses...

Mais uma vez Gisela tinha sido apanhada desprevenida, não contava com a noticia de Miguel ficar casado mais um ano, e muito menos que ele lhe fosse pedir em namoro.

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Conversa Desejada

por Clementine Tangerina, em 17.07.09

(...)


Gisela ficou realmente surpreendida com o rumo da vida de Miguel. Sabia que ele era bem formado que tinha tido uma educação muito rígida, mas hoje admirava-o ainda mais pelo esforço que tinha feito para conseguir aguentar um casamento por motivos de doença de Maria.
Gisela lançou um convite que de imediato não foi aceite por Miguel.
- Desculpa Gi, mas tinha planeado hoje ter uma conversa definitiva com a Maria, quero dizer-lhe que vou começar a procurar casa e que vou falar com o meu advogado para avançarmos com o processo de divorcio.
- Ah! Claro, eu compreendo o jantar fica para outro dia sem problema!
- Não fica para outro dia, fica para amanhã, se não tiveres nada combinado!
- Por acaso tenho, mas não é nada importante, vou desmarcar!
- Se achas que consegues...
- Sim, não tem qualquer problema, jantamos amanhã!
-Então nesse caso amanhã vinha apanhar-te ao escritório ?
- Não, amanhã é provável que não esteja no escritório, tenho uma reunião fora e depois devo tirar o resto da tarde para mim.
- Nesse caso como combinamos?
- Depois eu envio-te uma sms a dar-te a minha morada e a dizer a que horas estou pronta, pode ser?
- É claro, fica combinado!
Despediram-se com um beijo na cara e Miguel agarrou Gisela pela mão como forma de demonstração do carinho que sentia por ela.
- Até amanhã, boa sorte logo à noite com a conversa.
- Bem vou precisa confesso!
- Então que corra pelo melhor.
Miguel saiu do escritório de Gisela e ela ficou a pensar em toda a história que tinha sido revelada por ele, sentia-se mal por estar feliz com o fim do casamento dele, mas era efectivamente aquilo que sentia e não podia fugir desse sentimento. Para ela Miguel tinha um lugar especial no seu coração e que nunca tinha sido ocupado por nenhum dos homens com quem tinha saído nos últimos anos.
Sentia-se nervosa por voltar a sair com ele, e pelos olhares que ainda eram tão cúmplices.
Esteve o resto do dia ocupada com a apresentação que tinha que fazer, e esqueceu por momentos a história de Miguel.
Saiu para almoçar e preferiu ir dar uma caminhada pelas ruas junto à empresa, a sua amiga Lisa ligou-lhe para a convidar para estarem juntas, ela recusou, precisava pôr as ideias em ordem, precisava de estar por alguns minutos sozinha com os seus botões e digerir a manhã daquele dia.
O resto do dia passou num instante, quando deu por ela já toda a gente tinha ido embora, arrumou as suas coisas e dirigiu-se ao carro que estava na garagem da empresa.
Surpreendentemente percebeu que tinha um bilhete no para brisas, « Obrigado, por me compreenderes e por continuares a ser a Gi, bjs M.» leu o bilhete e guardou-o religiosamente dentro da mala. Entrou no carro e agarrou no telemóvel para enviar uma sms a Miguel,
« Obrigado, por não teres desistido de procurar a tua felicidade, fico feliz por ti...por nós! Beijo Gi».
O caminho até casa foi feito de troca de sms's com Miguel, era muita a necessidade que ambos sentiam de estar em contacto e de recuperarem a relação que tinha ficado para trás.
A noite passou, Gisela demorou a adormecer, mas sabia que tinha que dormir bem para estar com bom ar para a reunião que ia ter no dia seguinte.
O despertador tocou às 6h30, tinha que se preparar para o dia que apesar de ser curto, ia ser intenso. Queria tomar o pequeno almoço com calma e escolher a roupa com a devida atenção.
Fez a cama, ligou a agua do duche e a música da aparelhagem, na rádio tocava uma música que não sabia quem cantava mas que a deixou bem disposta.
Às 8 horas estava pronta para sair de casa, queria chegar ao escritório mais cedo para preparar tudo o que faltava para a reunião, e tinha uns emails para enviar antes dos telefones começarem a tocar.
Chegou ao escritório, ligou o seu portátil e foi até à maquina do café tirar um bem forte. Apesar de ter dormido bem, ainda se sentia cansada e com sono.
Voltou para a sua sala, e descarregou os emails, ficou com um sorriso de cara a cara quando viu que tinha um email de Miguel. « Bom dia Gi, para mim ainda é boa noite...já falei com a Maria, não correu como eu julgava...mas logo falamos! Diz-me onde queres que te vá buscar...»
Gisela ficou nervosa com aquele email tão enigmático...não sabia o que havia de pensar, « será que ela não lhe quer dar o divorcio? Aiiiiiii o que é que por ai vem...»

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Os factos consumados...

por Clementine Tangerina, em 10.07.09



(....) Miguel fez um esforço para convencer Gisela que o seu casamento desde o primeiro dia era uma farsa.

- Miguel, tens noção que isso é o que todos dizem? Todos os homens casados e que querem ter uma relação extra-conjugal dizem isso às amantes.

-Gisela, mas tu não és minha amante e eu também não te quero como amante. Ofendes-me com essas tuas palavras.

- Desculpa mas não foi intenção minha, queria que percebesses que essa é a cantiga de todos os homens.

- Todos não, eu não sou assim, estou a ser o mais sincero possível. Deixa-me acabar de te contar a história do meu casamento.

- Continua então... - Afirmou Gisela a tentar demonstrar um ar de pouco interessada.

- Como já te disse a Maria engravidou pouco antes do nosso casamento, senti-me na obrigação de casar com ela, afinal ela já tinha tudo pronto para o dia do nosso casamento, convites entregues, vestido, decoração, lua de mel marcada...tudo! Tentei por várias vezes falar com ela, mas ela parecia que sabia o que eu lhe ia dizer e fugia de mim a sete pés...quando me dei conta estavamos na véspera do grande dia e não podia acabar tudo...por respeito a ela e à família casei. Não foi o dia mais feliz da minha vida, não me diverti e passei o dia todo a fazer um esforço para parecer feliz, para que ninguém percebesse a minha tristeza.

- Mas que bela embrulhada te meteste.

- Sim, é verdade! Depois da lua de mel, a Maria começou a ter alguns problemas com o bebé...foi aconselhada a ficar em casa a partir do 4 mês de gravidez e até ao nascimento da criança. Foi um período muito complicado, ela não fazia praticamente nada em casa e eu tive que me desdobrar para conseguir dar conta do recado e ainda ter cabeça para trabalhar. Mas vou resumir a história se não ficamos aqui o dia todo e como sei tens trabalho para entregar.

- Sim é verdade tenho muito que fazer ainda de manhã.

- Os 9 meses passaram num instante e o bebé nasceu com alguns problemas respiratórios, volta e meia tínhamos que o levar para as urgências porque parava de respirar, com poucos dias de vida teve que ser operado...acabou por falecer com dois meses de vida e desde então a Maria não se conforma, está cada vez mais deprimida e a tentar sobreviver de depressão em depressão.

- Estou a ver o filme, e tu com pena dela tens-te mantido ao lado dela, para evitares dramas ainda maiores.

- Exactamente, o bebé morreu à cerca de dois anos e desde então que a nossa vida é feita separadamente, vivemos na mesma casa mas não dormimos juntos, não sou capaz de a abandonar.

- E a família dela o que te diz ?

- Eles tem sido muito compreensivos comigo, inclusive dizem que a Maria teve muita sorte por ter casado comigo, porque tenho sido um companheiro à seria. Apoiam-me e muitas vezes dizem-me que não sabem como é que eu aguento tanto dela.

- Isso é bom, eles reconhecerem que te tens esforçado.

- Sim, mas estou a chegar ao meu limite, estou cansado de viver um casamento que não existe e de ser mais um enfermeiro para a Maria, ela está doente e ninguém se quer convencer que tem que ser internada para ficar curada de uma vez por todas.

- Já explicaste isso aos teus sogros?

- Mais que uma vez, mas eles dizem que não...que ela não pode ser internada, começam logo com aquelas parvoíces, do que os vizinhos e os amigos vão dizer dela...ridículos. Gente que só pensa na aparência e nada mais.

- Que estás a pensar fazer ?

- Já pedi o divorcio à Maria...quero viver a minha vida, quero começar de novo, como se tivesse acabado de chegar dos Estados Unidos, quero e mereço ser feliz.


Sem se aperceber Gisela tinha mudado de postura, a mascara tinha-lhe caído e ela conseguiu compreender melhor Miguel e por minutos desejou abraça-lo e servir-lhe de ombro amigo.

O telefone tocou, Gisela pediu desculpa e atendeu.

- Sim, o relatório está quase...prometo que entrego antes do meio dia...até já! - respondeu Gisela às perguntas que lhe foram feitas.

- Desculpa mas não devia ter vindo, este não é o local...mas tinha que falar contigo...era importante para mim esclarecer tudo contigo, és importante para mim.

Gisela ficou envergonhada com as palavras de Miguel e sem perder muito tempo disse-lhe.

- Queres jantar comigo logo à noite ?


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Será ?

por Clementine Tangerina, em 23.06.09

(...)
Andou horas e horas a pensar nas histórias que tinha vivido com Miguel, e o porque de tudo ter terminado tão rápido.
Pensou nos acontecimentos daquela tarde, e começou a procurar nos papeis antigos, a ver se conseguia encontrar o número de telemóvel dele.
Procurou, encontrou a tal agenda que sabia que tinham alguns contactos antigos e descobriu o número dele.
Sentou-se tranquilamente no sofá, cruzou as pernas e marcou o número:
- Estou! - disse do outro lado do telefone
- Estou, boa noite, será possível falar com o Miguel ? - Perguntou Gisela percebendo que não era ele.
- Ahh este já não é o número do Engenheiro, ele agora tem número de telefone confidencial!
- Mas era muito urgente, sou uma amiga de infância, precisava mesmo de falar com ele.
- Lamento minha querida, mas não posso mesmo ajuda-la!
- Ohh que chatice, demorei tanto a encontrar o número e agora não dá em nada.
- Se desejar posso ficar com o seu contacto e peço-lhe para lhe ligar assim que seja possível. Concorda ?
- Mas é claro, que concordo.

Gisela lá deixou o número de telefone e ficou durante horas e hora a olhar para o telemóvel na esperança que ele lhe ligasse. E nada.
Desistiu de conseguir falar com ele e agarrou-se ao computador onde lhe esperava muito trabalho atrasado.
Descarregou os emails e para sua surpresa Miguel tinha-lhe escrito.
" Gisela, não sei qual foi o teu objectivo ao ligares para mim, mas só posso prever que estejas arrependida da figura ridícula que vens a fazer nos últimos dias. Mais do que tudo sempre fui teu amigo, esquece o que se passou e pensa que apesar de termos sido o que fomos éramos amigos. Havia uma relação de confiança e amizade que sempre permaneceu entre nós. E por esse facto, não percebi a tua agressividade nestes últimos dias. Estive a reflectir e acho por bem nos afastarmos, a Maria está para chegar do hospital e não quero maça-la com fantasmas antigos.
Até breve!"


Gisela ficou perplexa com o email e a lata de Miguel falando até para si própria " ...mas desde quando é que eu sou um fantasma ? Desde quanto é que existia uma relação de confiança entre nós? depois de tudo o que me fizeste é claro que não há confiança nenhuma! Get a life.....raios mas porquê, porque é que me apareceste assim de repente e agora pensas "tá tudo bem"! Vai pró raio que te parta...vai morrer longe...era o que mais me faltava.".
Foi até ao quarto de banho, e refrescou a face, sentia-se esgotada, era muita coisa ao mesmo tempo, e ela sem espaço para respirar.
Decidiu responder-lhe ao email com o que tinha acabo de dizer para si própria...eram as palavras, segundo ela, que o fariam de certeza nunca mais dar sinal de vida e o de certeza que ele iria afastar-se para sempre!
Passou a noite em claro a pensar na troca de emails, se tinha agido correctamente mais uma vez, se tinha sido sensata e chegou à conclusão que definitivamente tinha sido o melhor a fazer.
Levantou-se com umas enormes olheiras como já esperava, tomou um duche rápido, enrolou-se no robe e tentou disfarçar com o corrector as olheiras que estavam mais profundas que nunca. Olhou-se ao espelho e disse " bem, o que vale é que este produto faz milagres, parece que dormi um dia inteiro...bem dito sejam as modernices da cosmética". Passou rapidamente pelo frigorífico bebeu um copo de sumo de laranja e tirou uma maça da fruteira e apressada rumou para mais um dia de trabalho.
Deu os bons dias ao senhor Aníbal, subiu no elevador com uma colega de gabinete e deixou cair a pasta mal entrou no seu escritório.
- O que fazes aqui ? - perguntou Gisela.
- Não gosto de situações mal resolvidas, e já me conheces muito bem para saberes disso! - Disse-lhe Miguel
- Olha vou ter um dia ocupado, como sabes tenho uma apresentação para fazer e tenho que finalizar hoje! - Tentou convence-lo Gisela.
- Lamento, mas nada me vai fazer sair daqui sem que as coisas se resolvam entre nós - Disse-lhe convicto
- Diz, e sê rápido! - Respondeu-lhe friamente Gisela
- Só quero que saibas que quando há uns anos te deixei tinha uma explicação, se bem te lembras eu já namorava com a Maria há muitos anos e tu apareceste numa altura que me sentia com dúvidas sobre a relação que tinha com ela, por um lado ela dava-me muita estabilidade mas por outro a nossa relação estava a tornar-se rotineira.
- Estabilidade ? Só se for financeira... - Provocou-o Gisela
- É claro que também foi financeira, como te recordas, não passava de um puto que queria vencer na vida, queria sair do campo e vir para a cidade, queria ser alguém, o meu sonho era ser tratado por engenheiro. E isso quer queiramos quer não só podia conseguir com a ajuda da Maria e do pai dela que sempre me considerou um filho. Não podia deixar para trás um sonho e fugir contigo, não podia. Havia muita coisa em jogo e isso era importante para mim.
- Queres dizer então que eu não fui importante para ti ?
- É claro que foste, caso contrario não estava aqui hoje, não tinha vindo falar contigo hà uns dias. A Maria sempre soube de ti, nunca soube ao certo quem tu eras e de onde tinhas vindo, mas sabia que tinha existido uma mulher na minha vida que me tinha deixado marcas para sempre. Como estava a dizer, com a ajuda do pai da Maria fui para a faculdade, e depois estive três anos a fazer um mestrado nos Estados Unidos e a Maria sempre que podia ia ter comigo. Vivemos praticamente uma relação afastada durante esse período, só estávamos juntos de tempos a tempos. O meu objectivo sempre foi regressar a Portugal e terminar tudo com ela, queria começar a trabalhar e pagar todos os gastos que tinham sido pagos pela sua família para não ficar a dever nada a ninguém. Mas infelizmente a Maria surpreendeu-me e quando regressei a Portugal ela já tinha tudo marcado, umas semanas depois era o nosso casamento. Na cabeça dela e da sua família fazia sentido, já namorávamos há mais de seis anos e aquele era o momento certo. Foram as semanas mais difíceis da minha vida, a minha eterna dúvida se continuava com ela ou se acabava com aquele teatro todo.
- Então e porque é que então casaste se não querias?
- Porque a Maria entretanto engravidou, parece que uma das vezes que ela foi ter comigo engravidou.
- Não sabia que tinhas filhos.
- Calma já chego lá. (...)

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Depois da Coincidência...

por Clementine Tangerina, em 17.06.09

(...)
Espantada com a lata dele, apagou a mensagem, "mas quem é que ele pensa que é! Era só o que me faltava, depois de tudo ter feito para esquecer da sua existência, agora aparece-me como se nada fosse, cobarde".
Tentou esquecer por algumas horas o episódio que se tinha passado com Miguel, concentrou-se no trabalho e tratou de organizar uma apresentação que tinha para fazer na semana seguinte no "open day" da empresa, em que tinha que se apresentar perante os colega. Como era nova tinha ainda mais responsabilidade, sabia que a iria olhar de alto a baixo, pois o lugar que ocupava era desejado por muitos, e dificilmente se chegava onde ela estava. A inveja era muita e por isso tinha que dar ao litro para sair vitoriosa da apresentação.
Pediu à secretária que não lhe passasse chamadas de ninguém, inclusive de colegas. Trancou-se no seu escritório até ao final do dia, esqueceu-se das horas e só deu pelo tempo passar quando anoiteceu.
Tentou por inúmeras vezes ignorar o email, mas precisou enviar um relatório ao director e quando abriu o email percebeu que Miguel não tinha desistido de falar com ela. Haviam mais de quinze emails dele, por momentos ponderou apagar e esquecer, mas ele tinha feito o trabalho de casa bem feito, no assunto dos emails lia-se "POR FAVOR RESPONDE-ME A SMS", e " NÃO ME IGNORES DEIXA-ME FALAR CONTIGO" e também "Ainda sentes alguma coisa por mim?". Estando no assunto dos emails, era inevitável que ela não lesse o seu conteúdo.
Era preciso ter realmente muita lata para lhe fazer tal pergunta, mas ela não tinha dúvidas, ou pelos menos achava que não tinha.
Abriu um novo email e escreveu: " Miguel, parece-me que não fui suficientemente clara quando hoje te disse que não queria voltar a cruzar-me contigo, que não queria falar contigo. Não te guardo rancor, mas não te quero perto de mim, o que passou passou, já não significa nada. Foi um acidente de percurso que não voltará a acontecer. Quanto ao passado, a seres um miúdo, sabes tão bem quanto eu que não eras assim tão miúdo como queres transparecer. Eras suficientemente adulto para teres assumido a responsabilidade e aceitares aquilo que estávamos a viver. Mas como já te disse, passou, não quero pensar mais nisso. Concentra-te na tua relação com a Maria e esquece-me."
Acabou de escrever o email e encerrou o computador, arrumou os papeis e vestiu o casaco, despediu-se dos colegas e rumou até ao estacionamento para ir buscar o seu carro.
Colocou a pasta na mala, ligou o carro e puxou a bolsa de cd's que tinha por baixo do banco. Pensou para si "o primeiro que vir vai ser o que vou ouvir..." gostava de fazer esse jogo, caso contrario sabia que ouvia quase sempre o mesmo cd, com esta brincadeira sabia que iria ouvir um cd que provavelmente já não escutava há algum tempo. Abriu a bolsa e apareceu Caetano Veloso "Livro", um dos seus cd preferidos de sempre. Colocou a música "Não Enche" e cantarolou enquanto tirou o carro do parque. Despediu-se do senhor Aníbal, porteiro da empresa, e desejou-lhe um resto de bom trabalho. Quando saiu do parque foi literalmente trancada por outro carro. Apitou, barafustou e a pessoa saiu do carro.
"Era o que mais faltava" disse em voz alta, do outro carro saiu Miguel.
- Não podia deixar as coisas em banho Maria, desculpa gi mas não podia. - disse-lhe Miguel
- Olha, não há nada para falar, enviei-te um email e expliquei tudo...- Disse-lhe a despachar.
- Já li o email...recebi à segundo...achas que não há nada mesmo para falarmos ?
- Não é claro que não há nada...concentra-te na Maria, vai ter com ela e resolve a vossa relação, alias cuida da vossa relação que me parece bastante abalada.
- Mas não há nada para resolver, a Maria é a Maria e tu és tu.
- Ah! piadinha nova ? Só pode. Como é que me podes separar da Maria ? Se nos voltamos a encontrar por causa dela ? Ahhh já percebi, queres limpar a tua imagem mas obviamente esconder da Maria que me conheces, ou talvez não queiras que ela saiba quem eu sou.
- Não é nada disso, não sejas ridícula. A Maria sabe de ti, sabe quem tu foste, quem tu és. São relações diferentes, sem comparação possível.
- Bem estas pior do que eu imaginava. Não sejas patético, com essa historia de relações diferentes, sentimentos diferentes, comigo não cola. Estou cansada a tua ladainha é sempre a mesma, já podias fazer mudar a historinha é que já aborrece.
- Gisela por favor sê racional, e vamos tentar ser civilizados.
- E vamos ser, quando tirares o carro da frente, para eu passar.
- Não vou tirar enquanto não me deixares falar.
- Esquece, isso não vai acontecer!
- É preciso isto tudo ? Já viste o drama que estás a criar ?
- Drama ? Essa é boa...opá ohh Miguel, vai à tua vida e deixa-me em paz por favor...estou cansada, o dia foi estafante não estou com cabeça para mais dramas.
Sem acrescentar mais nada Miguel virou-lhe as costas e desapareceu de carro.
Gisela questionou-se da rapidez com que o demoveu, o que será que lhe tinha dado para desistir tão facilmente ?
Foi para casa e passou a noite a dar voltas, se lhe devia ligar ou não. Agora era ela que se queria explicar, era ela que queria ouvir o que ele lhe tinha para lhe dizer. Mas as dúvidas permaneceram, será que devia ? (...)

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Coincidências...

por Clementine Tangerina, em 11.06.09

Era um final de tarde típico de inverno. Iria sair do trabalho e apanhar o metro até casa, puxaria o livro que tinha na mala e colocaria os phones nos ouvidos, a viagem iria demorar cerca de 20 minutos e sabia que quando chegasse à sua estação iria dizer para si mesma "Já?!"!
Entrou na estação de metro, olhou para o relógio na parede e esperou que o seu comboio chegasse. Olhou em volta reconheceu alguns colegas da empresa, de outros departamentos. Não os conhecia pessoalmente, mas já se tinham cruzado nos corredores. Reparou numa colega que estava constantemente a olhar para o relógio e para a linha na esperança que o comboio chegasse. Notava-se que estava stressada e muito nervosa, o telemóvel dela não parava de tocar e ela fazia de tudo para esquecer que tinha alguém que queria falar com ela.
O comboio chegou, e ambas entraram em carruagens diferentes. Pegou no seu livro, colocou uma música calma e deixou-se levar até casa.
Tal como tinha previsto a chegada foi rápida, arrumou o livro, e caminhou em passos largos. Queria chegar rápido a casa para puder tomar um merecido banho, e esquecer por algumas horas as preocupações laborais.
Enquanto fazia o caminho de todos os dias encontrou a tal colega que estava com ela no metro, decidiu aborda-la.
- Olá, sou a Gisela do departamento de Marketing...chamaste Maria, correcto ? vi que estavas nervosa no metro, está tudo bem? precisas de ajuda?
- Departamento de marketing? uhm nunca te vi...mas tá bem...
-É normal, sou nova na empresa...só fui contratada hà dois meses é natural que não me conheças!
-Olha estou com pressa, preciso ir...não tenho tempo para conversa fiada.
-Desculpa, só quis ajudar, parecias nervosa.
-E estou, mas nada que te diga respeito.
-Mais uma vez desculpa.
Gisela ficou furiosa, chateada consigo própria por não ter dito umas quantas verdades à colega, sentia-se uma autentica parvinha, por ter permitido uma fulanita qualquer armar-se em superior.
- Cambada de infelizes isso sim, descarregam nos outros os problemas da vida deles...ora esta, era o que mais faltava!
Rapidamente chegou a casa, descalçou os sapatos no Hall, pousou a mala e correu para o quarto para se despir.
Por muito que se esforçasse o episódio com Maria tinha-a deixado transtornada e incomodada. Já tinha percebido que o ambiente na empresa não era o melhor, mas nunca pensou que as pessoas fossem tão cruéis e mal educadas.
Na manhã seguinte, ao chegar ao trabalho passou pela cafetaria e cruzou-se com alguns colegas que tinham todos um ar de caso. Pareciam crianças da escola, a tentarem contar uns aos outros um segredo sem os outros em volta ouvirem. Aproximou-se do balcão e questionou a empregada do que havia de novo para estarem todos ali aquela hora.
- Parece que uma colega sofreu um acidente, segundo ouvi está com uma depressão profunda e a direcção não lhe autoriza a baixa dizendo que é fita dela.
Intrigada perguntou novamente se sabia de que departamento era, ao que a funcionaria lhe respondeu:
-A menina sabe quem é, é da informática, a Maria que é casada com o Engenheiro Menezes.
Por segundo, Gisela julgou estar a alucinar...não podia ser a Maria, mas ao mesmo tempo o comportamento dela no dia anterior estava justificado.
Conseguiu descobrir em que hospital estava internada, e fez questão de lhe enviar flores. Enviou um email ao marido e disponibilizou-se para o que fosse preciso, mesmo sem se conhecerem pessoalmente.
Quando regressou de almoço, a secretaria comunicou-lhe que estava um colega à espera dela na sua sala. Estranhou mas podia ser alguem da comunicação interna, a precisar de alguma ajuda.
- Olá, muito prazer...sou a Gis......o que é que estás aqui a fazer? - perguntou ela
- Eu sabia que eras tu...quando recebi o teu email esta manha.
- Mas eu não te enviei nenhum email, estás enganado...alias já não tenho o teu email...
-É claro que tens...hoje de manhã enviaste-me um email sobre a Maria...
- O que? tu és o engenheiro Menezes? Mas desde quando? de onde vem o Menezes? nunca te conheci com esse nome?
- Casei com a Maria e adoptei o nome dela...
-Não isto não me está a acontecer...tu trabalhas aqui? como é que nunca te vi...
- É normal que nunca me tenhas visto, eu não trabalho neste edifício, estou na sede e muito raramente venho até aqui...só em situações muito esporádicas...como hoje.
- Isto é inacreditável...depois de tudo o que se passou, encontrar-te na mesma empresa e cruzar-me com a tua esposa...é demais.
- Sim de facto é demais...
- Como está a Maria ?
- Não está bem, julgamos que ela tentou pôr fim à vida...apesar de ter sido atropelada tudo indica que ela se atirou para cima do carro. Isto já tinha acontecido anteriormente ela é muito frágil...
- ...pára pára...não quero saber...não quero mesmo saber. Só me interessa se ela está bem, o resto dos detalhes guarda-os para ti.
-Mas Gi porque é que me estás a tratar assim, friamente?
- Tens memória curta...mas eu não. Esquece que te enviei o email...e esquece que trabalhamos na mesma empresa. Sai da minha sala não preciso saber mais nada da tua vida.
-Mas eu gostava de saber da tua...
- Não me faças rir, quando eu precisei de ti viraste-me as costas e agora que estás casado, e tens um casamento problemático é que te interessas por mim. Esquece-me. Sai. Vai embora...vai!
Ele fez-lhe a vontade e saiu da sala. Ela voltou-se para a janela para ver se conseguia vê-lo a ir embora. Fechou a porta do escritório, e sem contar foi surpreendida com as lágrimas que há muito evitava.
Segundos após ele sair, recebeu uma sms dele. " Esquece o passado, eu era um miúdo parvo. Esse rancor só te faz mal. Se quiseres conversar procura-me estou disponível.".

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