A semana não tinha sido fácil, reuniões todos os dias, horas extraordinárias e visitas ao hospital onde o pai estava internado durante os intervalos das reuniões.
Sentia que a corda estava a esticar demais para o seu lado, e que tinha realmente receio que partisse e fosse tarde demais para a substituir.
A esperança estava no dia, era sexta-feira e no dia seguinte não iriam existir reuniões, horas extra nem visitas ao hospital. Prometeu a si mesma que aquele iria ser o seu fim de semana, onde iria desligar do mundo e ficar centrada em si mesma.
Saiu de escritório e fez questão de se esquecer do seu portátil, olhou para ele mas rapidamente desistiu de o levar. Despediu-se do porteiro do edifício, dirigiu-se ao seu carro e arrumou a pasta no porta bagagens do carro, mais uns documentos esquecidos no carro que não iria levar para fim de semana. Entrou no carro e mesmo sem programar começou a tocar o cd de Chill out que uma amiga lhe tinha oferecido, mesmo a calhar. Optou por fazer o caminho para casa à beira mar, coisa que normalmente não faria...odeia aquela estrada e demora-se sempre mais tempo. Mas hoje não havia pressa...queria entrar no fim de semana tranquila e sem stress.
Estava um final de dia quente e haviam muitas pessoas na praia a molhar os pés. Encostou o carro, descalçou os seus eternos Jimmy Choo que lhe tinha sido oferecidos no seu último aniversário pelo seu ex. Trancou o carro e foi até à praia...afastou-se das pessoas que ali se encontravam e sentou-se na areia, junto ao mar. Cruzou as pernas e abriu o peito para respirar fundo! Enterrou os pés e as mãos na areia e fez alguns exercícios de respiração.
Olhou para o horizonte e ai percebeu o quanto se sentia cansada, que realmente todos os acontecimentos dos últimos tempos a tinha deixado com as energias completamente em baixo.
Sentiu-se nova, e rumou até casa.
No carro voltou a calçar os sapatos, mas optou por despir a camisa que lhe prendia os movimentos, ficando apenas com uma de alças que tinha por baixo. Foi a conduzir com a janela aberta e o cabelo a bater-lhe na cara, aumentou o volume da música e continuo a respirar fundo para se tranquilizar.
Antes de ir para casa, parou junto à sua florista preferida, há muito que não comprava flores frescas, e a casa precisava de ganhar cor. " Gerberas rosas e brancas, são bonitas e aguentam-se muitos dias "disse ela para senhora.
Voltou a entrar no carro e desta vez para não parar, seguiu directamente para casa.
Meteu a chave à porta, e antes de a porta se abrir, já ela se estava a descalçar. Pousou a mala na cadeira antiga que tinha na entrada, pousou as chaves e correu para a banheira para a encher de agua. Enquanto a agua ia subindo na banheira, ela foi até a sala e pôs a tocar o seu cd preferido de Buddha Bar, nada a fazia relaxar mais do que aquelas músicas e todo o ambiente que criava para se sentir descontraída. Acendeu umas velas na sala, e caminhou para a casa de banho para acender mais umas quantas. Quando vinha da sala passou pela cozinha e percebeu que havia uma garrafa de vinho aberta em cima da mesa e um copo que ainda não tinha sido usado. Estranhou...porque na noite anterior não tinha aberto nenhuma garrafa de vinho e muito menos aquele vinho que sabia que nunca tinha provado. " Estranho?! será que enlouqueci" pensou ela...mas ignorou...podia ter sido a empregada que lhe tinha deixado um mimo porque sabia que não andava com tempo para si.
Despiu-se e entrou na banheira. Nesse instante ouviu o telemóvel a tocar...era uma sms...ignorou e continuo no seu banho.
Mergulhou a cabeça dentro de agua, como fazia quando era miúda...adorava ouvir os sons debaixo de agua...parecia que ali tudo se ouvia melhor...permaneceu alguns segundos de olhos fechados e voltou à superfície para colocar o óleo para a pele que tinha comprado há alguns dias atrás numa loja nova que conheceu.
Óleo posto, banho tomado, sentia-se realmente a flutuar só lhe faltava mesmo era vestir o seu fato de treino de algodão branco e provar o vinho que lhe tinham deixado.
Enrolou-se na toalha, calçou os chinelos e foi à procura do telemóvel. Alguns minutos para o encontrar dentro da confusão que é a sua mala, tirou a agenda, a caixa dos óculos, o estojo das canetas, a bolsa da maquilhagem, o bloco de notas...e o telemóvel nada...finalmente encontrou-o num dos bolsos da mala.
Desbloqueou o telemóvel e leu "...Que o vinho te saiba tão bem quanto o banho..."! Não conhecia o número de telefone, nem vinha assinada...ficou intrigada, mas ao mesmo tempo pensou que devia ser alguma brincadeira de uma amiga.