Entrei, sentei-me na mesa mais ao canto e pousei o livro de notas. Pedi um chá verde e jasmim, despi o cascol e as luvas e respirei fundo. O tilintar da porta chamou-me à atenção para um homem bem apresentado, que transmitia um ar sereno. Numa das mãos uns óculos de ver e na outra agarrava o "Ontem Não Te Vi Em Babilónia" de António Lobo Antunes, logo ai fiquei fascinada, não o considerasse eu um dos homens mais inteligentes e sábios da escrita. Sentou-se numa das mesas viradas para a rua no outro extremo da sala e de costas para mim. Não podia analisar mais profundamente aquele homem que tanta curiosidade me tinha despertado. O empregado trouxe o chá, questionei onde era o WC, e por breves segundo pensei se deveria ou não ir, já que tinha que passar pelo homem mistério, mas a adrenalina fez-me levantar de imediato e ir. Ao passar ouvi-o a ler uma frase do livro em voz alta, não percebi muito bem, e por breves segundos julguei que estivesse a falar comigo. No regresso à minha mesa e ao meu chá, tive curiosidade de ver melhor o seu rosto. Incomodado com um olhar estranho, olhou para mim e disse-me : " Sabe que os verdadeiros apreciadores de chá, só bebem de infusão?", perplexa com aquelas palavras, acenei com a cabeça e ele continuava a divagar "...é a mesma coisa que um apreciador de um bom bife ser obrigado a comer um fast food..há coisas que são únicas"! Fiquei ali de olhar arregalado e a escutar aquele homem que tanto tinha para contar e tanto para me fazer aprender...