
(....) Miguel fez um esforço para convencer Gisela que o seu casamento desde o primeiro dia era uma farsa. - Miguel, tens noção que isso é o que todos dizem? Todos os homens casados e que querem ter uma relação extra-conjugal dizem isso às amantes.
-Gisela, mas tu não és minha amante e eu também não te quero como amante. Ofendes-me com essas tuas palavras.
- Desculpa mas não foi intenção minha, queria que percebesses que essa é a cantiga de todos os homens.
- Todos não, eu não sou assim, estou a ser o mais sincero possível. Deixa-me acabar de te contar a história do meu casamento.
- Continua então... - Afirmou Gisela a tentar demonstrar um ar de pouco interessada.
- Como já te disse a Maria engravidou pouco antes do nosso casamento, senti-me na obrigação de casar com ela, afinal ela já tinha tudo pronto para o dia do nosso casamento, convites entregues, vestido, decoração, lua de mel marcada...tudo! Tentei por várias vezes falar com ela, mas ela parecia que sabia o que eu lhe ia dizer e fugia de mim a sete pés...quando me dei conta estavamos na véspera do grande dia e não podia acabar tudo...por respeito a ela e à família casei. Não foi o dia mais feliz da minha vida, não me diverti e passei o dia todo a fazer um esforço para parecer feliz, para que ninguém percebesse a minha tristeza.
- Mas que bela embrulhada te meteste.
- Sim, é verdade! Depois da lua de mel, a Maria começou a ter alguns problemas com o bebé...foi aconselhada a ficar em casa a partir do 4 mês de gravidez e até ao nascimento da criança. Foi um período muito complicado, ela não fazia praticamente nada em casa e eu tive que me desdobrar para conseguir dar conta do recado e ainda ter cabeça para trabalhar. Mas vou resumir a história se não ficamos aqui o dia todo e como sei tens trabalho para entregar.
- Sim é verdade tenho muito que fazer ainda de manhã.
- Os 9 meses passaram num instante e o bebé nasceu com alguns problemas respiratórios, volta e meia tínhamos que o levar para as urgências porque parava de respirar, com poucos dias de vida teve que ser operado...acabou por falecer com dois meses de vida e desde então a Maria não se conforma, está cada vez mais deprimida e a tentar sobreviver de depressão em depressão.
- Estou a ver o filme, e tu com pena dela tens-te mantido ao lado dela, para evitares dramas ainda maiores.
- Exactamente, o bebé morreu à cerca de dois anos e desde então que a nossa vida é feita separadamente, vivemos na mesma casa mas não dormimos juntos, não sou capaz de a abandonar.
- E a família dela o que te diz ?
- Eles tem sido muito compreensivos comigo, inclusive dizem que a Maria teve muita sorte por ter casado comigo, porque tenho sido um companheiro à seria. Apoiam-me e muitas vezes dizem-me que não sabem como é que eu aguento tanto dela.
- Isso é bom, eles reconhecerem que te tens esforçado.
- Sim, mas estou a chegar ao meu limite, estou cansado de viver um casamento que não existe e de ser mais um enfermeiro para a Maria, ela está doente e ninguém se quer convencer que tem que ser internada para ficar curada de uma vez por todas.
- Já explicaste isso aos teus sogros?
- Mais que uma vez, mas eles dizem que não...que ela não pode ser internada, começam logo com aquelas parvoíces, do que os vizinhos e os amigos vão dizer dela...ridículos. Gente que só pensa na aparência e nada mais.
- Que estás a pensar fazer ?
- Já pedi o divorcio à Maria...quero viver a minha vida, quero começar de novo, como se tivesse acabado de chegar dos Estados Unidos, quero e mereço ser feliz.
Sem se aperceber Gisela tinha mudado de postura, a mascara tinha-lhe caído e ela conseguiu compreender melhor Miguel e por minutos desejou abraça-lo e servir-lhe de ombro amigo.
O telefone tocou, Gisela pediu desculpa e atendeu.
- Sim, o relatório está quase...prometo que entrego antes do meio dia...até já! - respondeu Gisela às perguntas que lhe foram feitas.
- Desculpa mas não devia ter vindo, este não é o local...mas tinha que falar contigo...era importante para mim esclarecer tudo contigo, és importante para mim.
Gisela ficou envergonhada com as palavras de Miguel e sem perder muito tempo disse-lhe.
- Queres jantar comigo logo à noite ?