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Visita Inesperada...

por Clementine Tangerina, em 06.07.09


(...) Leonor admirou a simplicidade de Raul, afinal ele era "o" Nobel que tanto se tinha falado no último ano.
Raul não estava nem ai por ela não o ter reconhecido, para ele era até um alivio. Gostava que as pessoas se aproximassem por aquilo que ele era enquanto pessoa, e não enquanto escritor. Para ele eram dois mundos distintos. Um era o Raul, cidadão que gostava das coisas simples da vida e que fazia de tudo para ser discreto, o outro era o escritor que vivia das palavras e das frases que construía e que as oferecia aos seus leitores. Nunca desejou ser Nobel, nem estar no "top ten" de vendas. Queria vender os livros suficientes de modo a conseguir viver da escrita e nada mais que isso. Tinha tudo o que sempre desejou, a profissão que gostava e lhe dava prazer e uma família fantástica que o apoiava incondicionalmente, para ele tudo o resto eram adereços.
Leonor olhava fixamente para Raul e intrigada perguntou-lhe:
- Achas que as pessoas se aproximam muito de ti, por seres o Raul "Nobel"?
- Algumas sim, outras tenho a certeza que não...! - olhando para ela e sorrindo com as últimas palavras.
- Mas podemos esquecer esse assunto do Nobel ? Por favor "Nô" já basta de Nobel, de escrita...estamos aqui os dois, vamos aproveitar! - pediu Raul.

Quando Raul se silenciou, Leonor olhou para o relógio pendurado na sala e disse-lhe:
- Está na tua hora não esta? Disseste que tinhas obrigações às 16 horas!
- Sim tenho, mas posso chegar mais tarde, as minhas obrigações são com a escrita, gosto de tentar escrever pelos menos três horas de manhã, à tarde e à noite. Afinal é a minha profissão, por isso tenho que me dedicar a ele, como me dedicaria se fosse um trabalho de escritório das nove às cinco, mas eu posso fazer os meus horário e desde sempre me disciplinei para cumprir.
-Não te quero incomodar em nada, podes ir e voltar...enquanto arrumo a louça do almoço e leio umas páginas do livro que ando a ler, tu vais trabalhar!
- Ganhaste, vou então para casa...regresso mais tarde para um café, posso voltar ?
- Aahahah, que ridículo...nem te vou responder! Cá te espero!
- Até logo então!

Raul levantou-se, ainda passou pela cozinha para deixar alguma louça que trouxe da varanda, e rumou para casa.
Chegando a casa, tirou a roupa que trazia, descalçou-se e foi tomar um duche rápido. Gostava de se sentir fresco enquanto escrevia. Não gostava que nada fosse motivo para distracção. Ligou a aparelhagem da sala, colocou um chill-out e abriu as janelas que davam para a varanda. Começou por reler as últimas páginas da sua história, e agarrou o livro de notas onde tinha o percurso das personagens. Sabia que a história tinha que dar uma reviravolta e criar uma situação que agarrasse o leitor.
Leonor acabou de arrumar a cozinha,preparou uma máquina de roupa branca e enquanto ela lavava agarrou no livro e foi deitar-se na espreguiçadeira da varanda. De tempos a tempos olhava para a casa de Raul, na esperança de o ver trabalhar, e por vezes já se tornava num vicio...olhar para se recordar dos últimos dias com ele.
A roupa da máquina estava lavada, preparava-se para ir buscar uma bacia da roupa às traseiras da casa quando reparou que uma mulher se aproximava da casa de Raul. Morena, de cabelos escuros, muito bem vestida, apesar de estar com um ar descontraida, e o cabelo extremamente bem apanhado. Leonor perguntou-se quem seria tal personagem...ele nunca lhe havia falado de nenhuma mulher. Ficou com a pulga atrás da orelha.
A mulher bateu à porta, enquanto Leonor se escondia pela cortina da sala de modo a que ninguém a visse espreitar, Raul abriu a porta e olhou em direcção à casa de Leonor.
Leonor tentou continuar a acompanhar a mulher dentro da casa de Raul, mas ele tinha os cortinados fechados e não dava mesmo para ver nada.
Furiosa, agarrou na roupa e lá a foi estender contrariada. Sentia-se nervosa com toda aquela situação.
«Será que ele tem mulher e não me disse nada ? Será que é casado? a verdade é que nunca falamos disso...que ridícula que és Leonor...algumas vez tinhas hipóteses com um Deus Grego daqueles...e ainda para mais meteste a argolada de não o reconheceres...» - pensou ela para si própria!
Acabou de estender a roupa, e voltou para a varanda, fingindo estar a ler o livro, toda a sua atenção estava virada para a casa de Raul.
Começou a ouvir a porta a abrir-se, e agarrou o livro com maior firmeza e fez tudo para que aos olhos de quem a visse, estivesse concentrada a ler.
Raul acompanhou a sua visita à porta e despediu-se dizendo:
- Conduz com cuidado, liga-me quando chegares, beijos!
Leonor ouviu atenciosamente palavra a palavra da despedida de Raul, « liga-me quando chegares?!?! no mínimo estranho... só pode ser namorada...só pode...»!
Raul voltou para dentro de casa para regressar à escrita, e entre os cortinados da sala espreitou para ver Leonor que se mantinha a fingir que lia.
(...)


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14 comentários

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De Versos Brancos a 06.07.2009 às 16:53

alguem da familia!

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